O governo do Estado protocolou no dia 18 de maio, na Assembleia Legislativa, o projeto de lei que propõe uma reestruturação do IPE Saúde. A proposta prevê o pagamento do plano para dependentes e aumento das alíquotas de contribuição e coparticipação. O PLC 259/2023 tramitará em regime de urgência e começará a trancar a pauta de votações do parlamento a partir da sessão de 20 de junho.
O governo apresentou uma versão final da proposta após uma série de reuniões com deputados e entidades de servidores e de médicos A proposta inicial foi duramente criticada, mas não houve grandes mudanças na versão final.
Conforme o projeto apresentado por Leite, o reajuste na alíquota de contribuição dos titulares do plano de saúde passará de 3,1% para 3,6%. Os valores para o segurado não podem exceder o que determina a Tabela de Referência de Mensalidade do IPE Saúde.
Tabela de Referência de Mensalidade - Titulares
Faixa etária | Teto de contribuição |
---|---|
0-18 | R$ 219,00 |
19-23 | R$ 264,00 |
24-28 | R$ 304,50 |
29-33 | R$ 344,25 |
34-38 | R$ 380,25 |
39-43 | R$ 435,75 |
44-48 | R$ 544,50 |
49-53 | R$ 682,50 |
54-58 | R$ 893,25 |
59+ | R$ 1.254,75 |
Fonte: Governo do RS
Atualmente, o IPE Saúde tem mais de 260 mil dependentes que passarão a pagar para usar o plano. A faixa de cobrança para dependentes com menos de 24 anos será de R$ 49,28. Nas demais, o percentual será 35% da tabela de referência.
Tabela de Referência Mensalidade - Dependentes
Faixa etária | Contribuição | Valor |
---|---|---|
0-18 | 22,5% de R$ 219,00 | R$ 49,28 |
19-23 | 22,5% de R$ 264,00 | R$ 49,28 |
24-28 | 35% de R$ 304,50 | R$ 106,58 |
29-33 | 35% de R$ 344,25 | R$ 120,49 |
34-38 | 35% de R$ 380,25 | R$ 133,09 |
39-43 | 35% de R$ 435,75 | R$152,51 |
44-48 | 35% de R$ 544,50 | R$190,58 |
49-53 | 35% de R$ 682,50 | R$ 238,88 |
54-58 | 35% de R$ 893,25 | R$ 312,64 |
59+ | 35% de R$ 1.254,75 | R$ 439,16 |
Fonte: Governo do RS
O percentual da coparticipação em exames e consultas também será majorado e passará de 40% para 50%.
A proposta protocolada ainda inclui uma trava global que limita a contribuição dos servidores em 12% da remuneração, qualquer que seja o número de dependentes na família.
O novo modelo de contribuição já passa a valer para os titulares na folha salarial seguinte à sanção da lei. Para os dependentes, depois de 90 dias da sanção. Os valores constantes nas tabelas poderão ser corrigidos anualmente, por ato do Poder Executivo, de acordo com a variação de custos do plano de saúde.
Proposta prejudica quem ganha menos
Para as entidades que compõem a Frente dos Servidores Públicos do RS (FSP/RS), que inclui o SIMPE-RS, a proposta de Leite rompe com dois princípios que fazem parte do IPE desde sua fundação: a
paridade de contribuição entre Estado e Servidor/Usuário; e a
solidariedade, no qual quem ganha mais paga mais e quem ganha menos paga menos.
De acordo com estudo apresentado pela Bancada do PT na Assembleia Legislativa, o projeto rompe com a paridade porque ocasionaria um aumento de 117,5% na contribuição média do titular e dependente, passando de R$ 105,18 (novembro de 2022) para R$ 228,79.
Já para o estado, o aumento seria bem menor, a participação deste aumentaria 16,1% em termos percentuais (de 3,1% para 3,6%), mas apenas 14% em termos financeiros, já que a paridade seria mantida somente sobre a contribuição do titular.
Já o princípio da solidariedade é atacado porque a reestruturação irá penalizar especialmente os servidores de menor remuneração e aqueles com dependentes de mais idade.
Por exemplo:
De onde vem a crise?
De acordo com o governo, a proposta visa cobrir um déficit estimado em R$ 746 milhões:
De acordo com o próprio Piratini, se o déficit fosse suportado através de reajustes salariais, seria necessário uma reposição de 32%. No entanto, foi ele mesmo que criou a defasagem que contribuiu de forma decisiva para a crise da instituição: em oito anos, a maioria das categorias teve apenas 6% de recomposição, frente a uma inflação de 61% (INPC 01/2015 a 12/2022).
Além disso, recentemente, a Contadoria e Auditoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul (Cage) divulgou que a Fazenda Estadual deve R$ 356,6 milhões ao IPE Saúde. A dívida é referente ao pagamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPVs) realizadas pelo Tesouro a servidores públicos que ganharam na Justiça entre 2004 e 2021.
A auditoria apontou que, ao efetuar os pagamentos dos precatórios e das RPVs, o Estado deveria ter repassado ao IPE Saúde as parcelas correspondentes às contribuições do servidor e da parte patronal. O documento denuncia que as transferências não ocorreram até o final de 2022. A dívida do Estado com o IPE Saúde representa 81% do déficit projetado de R$ 440 milhões registrado pelo instituto em 2022.
O repasse total dos valores dos imóveis do IPE Saúde por parte do Executivo; a contribuição sobre precatórios e RPVs; a quitação dos débitos relativos à parte patronal dos pensionistas por parte dos Poderes e Órgãos são medidas emergenciais que já deveriam ter sido tomadas. Ao invés disso, o governo opta pelo caminho de penalizar os servidores públicos, sobretudo os que ganham menos.
A precarização do IPE Saúde chegou a níveis alarmantes, mas esta crise é fruto, especialmente, das políticas dos governos Sartori e Leite. As alterações feitas a partir de 2018 por esses governos não atingiram o objetivo: prometiam modernização, qualificação e ampliação do atendimento.
Mobilização
Desde a apresentação da primeira versão da proposta pelo governador Eduardo Leite, ainda em abril deste ano, as entidades da FSP estão realizando uma série de atividades para conscientizar as categorias e a população sobre os riscos do projeto.
Já foram realizadas audiências públicas na Assembleia Legislativa e estão sendo promovidas uma série de plenárias pelo interior do estado para discutir o tema.
Nas próximas semanas, devem ocorrer manifestações em frente à ALRS para pedir que os deputados barrem o ataque ao IPE Saúde e aos servidores. Também haverá uma grande audiência pública na Casa, com a presença de diversas entidades sindicais.
A participação dos servidores nas atividades será fundamental para mostrar o descontentamento das categorias com a proposta do governo e convencer os parlamentares a derrubarem o projeto.
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