Por Dra. Silvia Generali da Costa – psicóloga, CRP 07/2840
As instituições públicas são frequentemente associadas a pesados elefantes, com dificuldade de movimentação, ou a labirintos kafkianos, nos quais ninguém mais sabe como entrou, porque está lá e nem lembra como sair. Muitas vezes as metáforas que associam a gestão pública à lentidão e à ineficiência são apresentadas como pressupostos gerais, aplicáveis a qualquer departamento ou órgão público. Pois venho lhes trazer o “cisne negro” de Karl Popper. Esse filósofo da ciência afirmou que mesmo que observemos milhares de cisnes brancos, a existência de somente um cisne negro provará que a teoria de que “todos os cisnes são brancos” está equivocada.
Estive no 5º Encontro Nacional da Rede TransformaGov, a convite da Diretoria de Inovação Governamental/DINOV, vinculada ao Ministério de Gestão e Inovação do Governo Federal. O objetivo dos encontros é, basicamente, promover a troca de experiências e ações bem sucedidas de inovação na esfera da administração federal.
A própria ideia de criar uma rede – embora existam tantas outras – já é algo que inova na lógica vigente de departamentalização dos serviços públicos. Essa lógica incentiva que cada área trabalhe para si e por si, sendo impermeável a iniciativas promissoras de outras áreas e a informações relevantes sobre sucessos ou fracassos de experiências transformadoras.
O tema do 5º Encontro foi a Saúde Mental dos Servidores. Na ocasião, eu e o colega professor Renato Koch Colomby, do Instituto Federal de Palmas, no Paraná, apresentamos e discutimos parcialmente os resultados da pesquisa realizada no Ministério Público sobre os fatores de risco psicossocial e os fatores protetivos a afetar a saúde de membros e de servidores em todo o país. Diante de resultados preocupantes, como a presença de Transtornos Mentais Comuns (ansiedade, depressão, entre outros), esgotamento físico e mental, sobrecarga, desânimo e ideação suicida, medidas estão sendo tomadas pelo CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) que já publicou uma resolução determinando a implantação de uma Política Nacional de Atenção à Saúde Mental no Ministério Público. A partir daí, a FENAMP vem propondo, em conjunto com a ANSEMP e Sindicatos Estaduais, meios de implementar a política e realiza encontros presenciais e on-line para a discussão de possíveis ações, entre outras iniciativas.
Assim, cheguei ao encontro na expectativa de ouvir os projetos dos colegas para a melhoria da saúde mental dos servidores.
Não tenho condições de descrever todo o encontro, então opto por um projeto de apresentação concisa, mas com uma profundidade e sensibilidade notáveis: o projeto Rosa dos Ventos, para a melhoria da saúde mental e prevenção ao suicídio na Polícia Federal.
O projeto, coordenado pela policial federal Romina Érica da Cunha Souto, visa ainda a melhoria do ambiente de trabalho e a transformação da cultura institucional, povoada por um imaginário de masculinidade tóxica. Os quatro pilares do projeto são a desmistificação da doença mental, o envolvimento e a união dos servidores, a identificação do adoecimento e a retomada do vínculo com a instituição. São promovidas rodas de conversas, atividades artísticas e culturais, oficinas de artes, atividades lúdicas, rituais de homenagens e reforço à cultura de união, além dos questionários para mapeamento das demandas do grupo.
O Rosa dos Ventos da Polícia Federal toca em pontos que as organizações sindicais ligadas ao MP têm buscado há muito enfatizar. A cultura institucional afasta e desagrega. Para a melhoria da saúde mental é preciso pensar e atuar no coletivo, integrar pessoas e unir objetivos. A doença mental, ainda mais quando associada ao trabalho, assusta, amedronta, faz com as pessoas não queiram reconhecê-la nem nomeá-la. E aí a piora do quadro é uma consequência previsível. Como reconhecer o adoecimento mental em suas primeiras manifestações, antes que se agrave? Como se sentir parte da instituição, com orgulho e vínculo afetivo? Os servidores do MP atestaram que o vínculo só se mantém com respeito e valorização. E saúde.
Parabéns aos colegas que promoveram o encontro, parabéns à Polícia Federal! Não há inovação efetiva sem a devida atenção à saúde dos servidores. Valorizar a vida e o coletivo, na sociedade atual, é uma grande inovação. E viva os muitos cisnes negros que povoam (e voam) no espaço público!
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